De volta ao Brasil – Entrevista com Paulo Rogério

De volta pra casa…

Morar no exterior é uma aventura e tanto, mas voltar como é? Qual a sensação de pisar em solo brasileiro após anos morando fora? Quem responde a essas e outras perguntas é o jornalista e marketeiro Paulo Rogério Souza, que voltou a morar no Brasil, após residir quase quatro anos em Dublin, na Irlanda. Natural do interior de São Paulo, ele estava radicado há 13 anos em Porto Alegre quando decidiu fazer as malas e partir para o velho mundo. De volta ao Brasil há poucos meses, ele nos conta como está se sentindo.


Entrevista: Vanessa Bueno

Paulo, o que lhe motivou a morar no exterior?
Quando completei 30 anos, fiz uma daquelas análises de vida e me dei conta que estava com quase metade dos meus caminhos percorridos. Foi então que decidi viver os outros 30 ou 40 anos restantes da maneira que quisesse. Apesar de super bem empregado, não estava muito satisfeito, por isso fiz as malas e me mudei para Dublin, na Irlanda, com a intenção de passar um ano. Acabei ficando três anos e dez meses.
 
O que lhe trouxe de volta ao Brasil?
Quando completei três anos morando fora, já estava com muita saudade de tudo por aqui. Estava cansado do tipo de trabalho que realizava. Sentia necessidade de voltar a fazer algo que exigisse mais de mim. Estava em um relacionamento também, mas fiz uma análise (outra) e decidi largar tudo e voltar. Achava aquela vida falsa, já que ali não era meu país. Não queria ser estrangeiro para sempre.
 
Como está sendo a readaptação?
Não está sendo nem tão difícil como eu pensava e não tão fácil como pretendia. Não gosto muito de calor e voltar em pleno verão tem seu peso. Não gosto também dessa cultura do corpo e do “ter” que a nossa sociedade, infelizmente, tem privilegiado cada vez mais. Mas tento não ficar voltando ao passado com frequência. Evito olhar fotos, vídeos e redes sociais dos amigos de lá. Tento me concentrar no aqui e agora, já que vivo das escolhas que faço e no momento escolhi estar no Brasil.
Qual a principal diferença que sentiu em sua volta?
Como mergulhei de cabeça na cultura irlandesa, na volta a comparacão foi inevitável. Com certeza as principais diferenças estão no calor e nos preços altos. Um salário de mil euros, por exemplo, com cerca de 20 a 25 horas trabalhadas por semana, coloca você em um patamar de classe média lá. Com mil reais no Brasil, você não consegue fazer quase nada. Claro que o um por um não é justo nem realista, no entanto, friso no valor do dinheiro.

 

Sua rotina no exterior era muito diferente da do Brasil?Sim, bem diferente. Deixei no Brasil um bom emprego como gerente de marketing, apartamento, onde morava sozinho, todo equipado, carro na garagem e todas aquelas aquisições sociais.
Quando cheguei em Dublin, dividia um apartamento com mais quatro pessoas e apenas um banheiro. Pessoal jovem e de bem com a vida, no entanto, cada um com suas manias, seus horários, seus costumes e suas predileções.

Nos primeiros cinco meses investi pesado no curso de inglês para aprender a me comunicar e poder, a partir daí, trabalhar, me relacionar e tudo mais. Após esse período, comecei a trabalhar como diarista. No sexto mês, consegui um emprego em um Café e fiz carreira. O negócio é de uma família irlandesa, muito “gente fina”, que me adotou. Fui muito bem tratado por eles e pelos clientes. Tive muita sorte.

Mesmo trabalhando no Café, não larguei as faxinas, que fazia depois do expediente, duas vezes por semana. Com a grana das limpezas, conheci sete países. Todo o dinheiro ganho como diarista ia para uma poupança que apelidei de: “Que mochilão que nada, vou de mala de rodinhas!”.

Que saudades sentia de casa?
O mais difícil eram as datas comemorativas. Foram três natais, viradas de ano, páscoas, dias das mães e aniversários longe. Tive que aprender a cozinhar e a fazer ceia de Natal por Skype com minha mãe. O que sentia falta de comer fui contornando. Por exemplo, adoro bolo de cenoura, então aprendi a fazer. Mas a saudade mesmo era de momentos com a família, como almoço de domingo, sabe?

Como define a experiência de morar fora?
Sabia que seria uma experiência muito louca. Diferente de tudo que já havia vivido, mas na prática foi isso tudo e um pouco mais. Me transformei em um cara com mais fé. E o mais importante: aprendi a não fazer tantos planos. Eu era viciado em listas. Planejava tudo e sempre. Em Dublin, tudo mudava o todo tempo. Na marra, tive que aprender a confiar no destino, no universo e relaxar. Acredito que estou pronto para meu segundo ato.

Pensa em voltar a morar no exterior? Se sim, onde?
No momento não. Quero construir minha vida aqui no Brasil agora. Parece que aquela agonia e insatisfação baixaram. Quero formar minha família, ter filhos e curtir bastante minha mãe, minhas irmãs e meus amigos. Se algum dia voltar a morar fora, quero ir pra algum lugar no sul da França.

Dicas para quem está pensando em voltar ao Brasil

 

 

clubedosmapas.blogspot.com.br

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Sobre Claudia Bömmels

Claudia Bömmels é fotógrafa, contadora de histórias, viajante e editora da Brasileiros Mundo Afora. Atualmente ela mora em Nanjing na China.

2 respostas para De volta ao Brasil – Entrevista com Paulo Rogério

  1. Claudia diz:

    Os meus primeiros cinco anos fora foram os mais críticos. Eu vivia em dois mundos e queria sempre voltar. Depois as coisas foram melhorando ;o) Concordo com vc, nao podemos ter medo de recomecar nem no Brasil nem em outro país. Olha só a Maria-Clara vivendo em Jacarta, praticamente no "fim do mundo". Corajosa! http://bit.ly/12b9juU

    Obirgada pela visita. Bjs

  2. Fernanda diz:

    Oi Claudia,
    muito interessante a entrevista.
    todos nós que moramos fora passamos por essas "análises" de vida e pensamos se devemos ou não voltar….
    o importante é não ter medo de recomeçar!!

    abs