Viajando pela China com Low

Low, como prefere ser chamada, é uma espanhola de 43 anos, natural de Vigo, cidade situada na Galícia, que vive na China desde 2016. No seu perfil do Instagram, ela compartilha com seus mais de 13 mil seguidores, fotos e vídeos de suas viagens, explorando uma China pouco conhecida no exterior. Suas publicações contêm reflexões interessantes e muita informação, visando compartilhar conhecimento sobre o país. A seguir, ela fala sobre seus sonhos, sua trajetória profissional, sobre morar na China e uma das suas grandes paixões: viajar.

“Desde que consigo me lembrar, sempre fui uma pessoa reservada e defino minha natureza como solitária. Eu sei que minhas viagens sozinha pela China inspiram muitas mulheres a fazerem o mesmo, e isso muito me alegra, mas explorar o mundo só faz parte da minha personalidade e não é difícil para mim, não é um desafio.

Após o ensino médio, minha intenção era de cursar Jornalismo, mas acabei graduando em Administração de Empresas. Desde então, construí minha carreira profissional no mundo das finanças. Trabalhei um longo período nessa área, mas como sempre tive uma alma criativa, acabei achando o setor bancário muito aborrecido. Em 2010, quando o mundo dos blogs começou a surgir, fui imediatamente atraída por ele. Sinto-me confiante ao expressar meus pensamentos e sentimentos através da escrita e de imagens. Como tantas pessoas naquela época, eu também criei meu próprio blog, escrevendo sobre moda, tendências e fotografia, o que transformou-se em uma válvula de escape do meu dia a dia. Apesar de gostar muito de escrever nessa plataforma, acredito que hoje em dia as pessoas procurem cada vez mais conteúdos compactos, visuais e que possam ser consumidos rapidamente. Por isso escolhi o Instagram para publicar minhas histórias, deixando o antigo blog para trás.

Em 2012, tive a oportunidade de trabalhar em uma grande empresa espanhola de moda, a qual eu sempre sonhei fazer parte. Passei quatro anos morando e trabalhando em Amsterdã, e foi lá que conheci meu marido. A companhia, então, nos ofereceu um projeto na China, aceitamos e nos mudamos para Xangai como expatriados em 2016, cada um com seu próprio cargo. Eu trabalhava no planejamento e análise financeira da Ásia-Pacífico, contudo, desde o primeiro dia no escritório não gostei nem da atmosfera de trabalho, nem do meu papel na equipe. Essa rotina interferiu negativamente em todos os aspectos da minha vida, incluindo minha saúde. Lembro-me de ter apontado a China, por muito tempo, como causa da minha infelicidade. Há três anos, decidi deixar meu emprego, começar um novo capítulo da minha vida e desfrutar melhor da oportunidade de morar neste país. É uma jornada cheia de altos e baixos, mas acredito que foi a escolha correta. Hoje, meu marido continua na sua missão profissional como um expatriado e eu estou envolvida em diversos projetos, entre eles meu perfil no Instagram, Somestylest, onde publico minhas aventuras pelo mundo desde 2012. Estamos muito felizes vivendo na China, sentimos que Xangai é a nossa casa e não estamos planejando nos mudar para outro lugar tão brevemente.

Recomeço como contadora de histórias

Compartilhando com meus seguidores a mágica que existe fora da nossa zona de conforto, eu percebi que consigo inspirá-los, entretê-los, ensiná-los e, de certa forma, fazê-los viajar comigo. Sinto que, finalmente, estou realizando o que eu deveria ter feito desde sempre: contar histórias, especialmente agora que tenho a fantástica oportunidade de viver em um lugar como a China.

Através das minhas histórias que publico no Instagram, quero transmitir principalmente conhecimento sobre esse país maravilhoso, que é completamente estranho para muitas pessoas. Especialmente depois da pandemia, eu percebi a gigantesca falta de conhecimento a respeito da China. Até mesmo eu tinha vários preconceitos antes de morar aqui.

Não gostaria de ser considerada uma influencer. Na verdade, eu não quero influenciar ninguém, mas compartilhar da magia do meu dia a dia. Existem inúmeros perfis de viagem e gosto daqueles que compartilham fatos curiosos, anedotas e fotografias que retratam a realidade do lugar. Muitos desses “viajantes influencers” estão mais interessados na foto do que na viagem, usando trajes incoerentes com o clima local, salto alto em lugares rochosos ou fotografando em locais perigosos. Quando viajo, meu objetivo principal é desfrutar das experiências e me divertir. Naturalmente que gosto de produzir retratos interessantes, mas o mais importante é relatar as histórias daquela viagem e não encenar uma foto. Honestamente, tenho muito respeito pelo esforço e tempo devotados às fotografias, mas esses perfis estão longe de ser minha inspiração. 

Old Town, Xangai

Você me perguntou qual seria meu conselho para alguém que quer viajar sozinho. Meu principal conselho é que a pessoa deve ter coragem de fazer aquilo que lhe traz felicidade. Se é viajar, então siga, não espere que alguém se junte a você, simplesmente vá e divirta-se!

Xangai

Não há nada mais corajoso do que ser você mesmo em um mundo que constantemente te diz o que se deve realizar, ser ou sentir. Lembre-se: você não precisa provar nada a ninguém. Você só precisa ser VOCÊ!

Conheço muitas pessoas com medo de viajar desacompanhadas, por se sentirem mais confortáveis com uma turma de amigos. Talvez não saibam como passar o tempo em sua própria companhia ou sentem-se constrangidas por estarem só. Sentar-se em um restaurante e pedir um vinho para si, é um bom exercício para se adquirir maior confiança. Parece simples, mas pode ser libertador. Em algumas situações tive a impressão de que as pessoas estavam quase com pena por me ver jantando sozinha, mas entendi que isso não é um problema meu. Eu realmente nunca me sinto solitária, mas para conseguir aproveitar essas viagens, é preciso conhecer-se bem e sentir-se confiante. Assim, você estará relaxada e feliz em todas as situações.

Existem muitas maneiras de se viajar. Eu não sou do tipo que faz mochilão nem sou aventureira destemida. Ao contrário, sou bastante preocupada com a minha segurança, especialmente por ser mulher. Gosto de viajar com um certo conforto e ficar em um bom hotel é, para mim, muito mais gratificante e valioso do que comprar roupas e outras coisas toda semana.

Alguns viajantes gostam de falar que, se você não experimentar as lanchonetes de rua, dormir em uma casa local ou viajar de ônibus, não é um viajante, mas apenas um turista. Sinceramente, essa é apenas a opinião deles. Viajo pelo mundo da maneira que melhor me convêm e sou igualmente uma viajante.

Viajar sozinha é uma oportunidade de aproveitar a viagem que você (e apenas você) quer curtir, como uma página em branco a ser preenchida com sua experiência particular. Viajar em grupo ou sozinha são experiências distintas e igualmente válidas, mas gosto de poder focar minha atenção em observar os lugares, os detalhes, a maneira como as pessoas se comportam, no meu ritmo, sem ter que me preocupar ou me distrair com os outros.

Red Brick Art Museum, Peking

Viajando na China

Na minha opinião, este é um dos países mais seguros no mundo inteiro. Há fiscalização, guardas e câmeras em todos os lugares, evitando situações perigosas. Algo que considero ainda mais importante é a mentalidade dos chineses, pois dificilmente eles ousariam atacar, machucar ou roubar alguém. Minha experiência me mostrou que eles são pessoas muito prestativas e simpáticas. De fato, muitos chineses nunca saíram de suas cidades natal e têm pouco acesso a conteúdo de fora da China, fazendo com que achem os estrangeiros diferentes e exóticos, além de serem bastante curiosos.

Amo viajar sozinha pela China! Sinto-me segura e protegida o tempo todo. Então, se você gostaria de explorar esse país, não hesite. Apenas arrume sua mala e se prepare para uma aventura maravilhosa!

Jixian Pavilion – West lake, Hangzhou

Algumas dicas para futuros viajantes desacompanhados na China! 

  • Considere que fora das cidades principais, as pessoas NÃO falam sequer uma palavra em inglês.
  • Leve impressas ou no seu celular suas informações básicas, como detalhes do seu hotel ou outros endereços em chinês, cópia do seu passaporte entre outras.
  • Certifique-se de ter os aplicativos de “sobrevivência” instalados: didi/táxi (transporte), wechat, alipay (pagamento online e código de saúde) vpn*, tradutor.
  • Também é muito útil ter um amigo chinês que você possa ligar em caso de emergência!
  • Certifique-se de ter tudo planejado (lugares que você quer ir, ingressos/passagens que você precisa comprar, direções para chegar aos lugares).
  • Se você quiser tornar sua vida mais fácil, escolha hotéis, onde se fala inglês e o café da manhã é ocidental.
  • Particularmente não gosto de excursões em grupo, mas penso que é muito importante organizar algumas partes da sua viagem com uma agência especializada. Normalmente contrato um serviço de motorista quando a distância é muito longa. Isso salva um tempo precioso de deslocamento e ajuda a população local a ganhar a vida também com o turismo.

Aqui você encontra Low no Instagram: Somestylest

Revisão de texto: Rachel Mezaros

*VPN significa “Rede privada virtual”. Conforme o nome indica, é uma rede privada do usuário que dá mais segurança na navegação, já que possui uma criptografia melhor, protegendo seus dados. Para garantir o acesso a diversos sites fora da China, é necessário se usar um aplicativo de VPN.

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Sobre Claudia Bömmels

Claudia Bömmels é fotógrafa, contadora de histórias, viajante e editora da Brasileiros Mundo Afora. Atualmente ela mora em Nanjing na China.

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