A China para empreendedoras

Daniela Sena é brasileira, natural de Sergipe, Aracaju, que mora na cidade de Hangzhou, China, desde 2010, quando veio ao país com o intuito de estudar o idioma. Em entrevista, ela relata à Brasileiros Mundo Afora sua experiência no empreendedorismo, seus desafios profissionais e pessoais, sendo uma estrangeira iniciando a carreira no mundo dos negócios em um país com uma cultura distinta. Daniela é empresária e live streamer na China, vem construindo uma carreira exemplar e prova que com persistência, foco e motivação para não desistir de seus objetivos, é possível alcançar ainda mais sucesso.

Daniela, nos fale sobre sua vinda e sua trajetória na China.

Mudei para a China em 2010, quando ganhei uma bolsa de estudos para aprender o mandarim, na Gongshang University, em Hangzhou, e desde então trilho minha jornada neste país. Cheguei sozinha, sem saber falar inglês ou a língua local, deixando família e amigos do outro lado do mundo. Demorou cerca de um ano para eu começar a me adaptar ao país.

O que inicialmente era para ser só um ano, tornaram-se dez, e mesmo com todas as dificuldades, decidi continuar meus estudos e mudei-me para a cidade de Suzhou, onde morei com uma família chinesa, o que impulsionou meu aprendizado e adaptação.

Como você iniciou a sua carreira internacional?

Em 2012, comecei a vender roupas e acessórios da China para clientes brasileiros, através da internet. Eram os primeiros passos do que, mais tarde, viria a se tornar a Continental Co., empresa que atualmente gerencio. Começamos com poucos clientes e recursos, mas a qualidade dos nossos serviços logo fez o negócio crescer com base nas boas indicações. A demanda de pessoas no Brasil, que buscavam produtos da China, só aumentava e, assim, crescia também o nosso projeto. No ano seguinte, retornei a Hangzhou e dei início ao bacharelado em Negócios Internacionais.

Enquanto ainda estava no Brasil, conheci a chinesa Cecilia Jiang em uma plataforma online de estudo de mandarim, nos tornamos melhores amigas e sócias. Em 2014, fundamos oficialmente a Continental Comex, empresa que oferece serviços para facilitar o comércio internacional. Atendemos empresas de diversos países, auxiliando no processo de entrada no mercado chinês, assim como expansão de empresas chinesas para o exterior. Hoje, a Continental tem representantes na China,
Hong Kong, Brasil, Portugal e África do Sul.

Qual foi a sua inspiração para abrir seu próprio negócio na China?
Minha independência financeira foi algo que sempre me motivou a criar e abraçar oportunidades. Na época, não consegui renovar minha bolsa de estudos para o segundo ano e precisei de alternativas de renda para pagar meus estudos aqui. Para mim, era muito importante não depender da minha mãe no Brasil, que tinha meus dois irmãos mais novos para se preocupar.

Após seu sucesso como CEO e cofundadora, o que você considera desafiador?

Bem interessante esta pergunta! Acredito que, por algum tempo, tive uma grande dificuldade em entender o que me trazia motivação e propósito todos os dias. Vivemos em um tempo em que mudanças acontecem muito rapidamente e tudo o que fazemos é tentar administrar as consequências, não percebendo e valorizando as coisas que de fato nos trazem alegria e satisfação.

Hoje, exploro possibilidades do que me motiva e me traz felicidade. À medida que os projetos crescem e envolvem mais pessoas, fica mais difícil focar e priorizar o que mais gosto de fazer, me dedicando àquilo que realmente é especial para mim. Já não sou apenas eu, pois minhas decisões impactam a equipe inteira.

Cada vez mais o comércio digital tem se reinventado para alcançar o maior número de usuários e aumentar suas vendas. O que você vê como possíveis desafios enfrentados por mulheres no marketing digital?

Vejo o marketing digital de uma maneira bem positiva! Muitas mulheres com diferentes formações, muitas vezes vindas de locais e situações sem privilégio algum podem, através dele, trabalhar de casa, com baixo investimento, trazendo mais dinâmica e flexibilidade para suas vidas profissionais. Os aspectos negativos do marketing digital são a exposição, o julgamento e o assédio na internet, para citar apenas alguns dos maiores desafios enfrentados por nós que trabalhamos com essas ferramentas.

Muitas pessoas sentem-se à vontade para comentar ou deixar opiniões mesmo que ofensivas, sem nenhuma base ou crítica construtiva, podendo atingir negativamente e impactar o psicológico com grandes consequências.  É necessário ter uma cabeça aberta e uma imensa vontade de vencer para ignorar tais desafios.

O que fez você criar a SheUp Community? Como incentivar mais mulheres a seguir o empreendedorismo como carreira?

Minha experiência como empreendedora na China, ao longo destes anos, foi o ponto de partida para criar a SheUp, uma plataforma que conecta mulheres empreendedoras mundo afora. Já contamos com mais de mil membros de 65 nacionalidades diferentes. O objetivo da SheUp é inspirar, encorajar e auxiliar mulheres que enfrentam diariamente os mesmos desafios.

Especificamente para as mulheres na China, quais são as maiores dificuldades para subir na carreira, em relação aos homens?

Depende do tipo de ocupação. Em algumas posições, as mulheres são mais propensas a serem promovidas do que os homens, uma vez que as mulheres modernas estão mais envolvidas em setores gerais, desde vendas à finanças, contabilidade, recursos humanos e outros setores importantes. Na nova estrutura do mercado chinês, existem mais líderes do sexo feminino e as chinesas têm melhorado suas habilidades mais abrangentes, facilitando sua promoção e ascensão.

Você acredita que as políticas de incentivo estão fazendo diferença para a redução de equidade de gênero? Na sua visão, quais são os desafios que ainda precisam ser enfrentados?

Certamente, existe sim, valor e resultados visíveis das políticas de incentivo e, na minha opinião, um dos pontos positivos é a criação de uma nova cultura no pensamento coletivo. Por exemplo, a próxima geração está vendo muito mais mulheres numa situação de poder do que a minha geração presenciou. Esta representatividade tem muito impacto. O maior desafio, porém, é que o processo de mudança na mentalidade comum não acontece tão rápido quanto gostaríamos, portanto, me sinto muito motivada a continuar reunindo mulheres que inspirem e instiguem, para que essa representatividade motive futuras líderes.

Qual a mensagem que você quer deixar para todas as mulheres que desejam seguir uma carreira internacional?

O incentivo das pessoas a minha volta, que acreditaram sempre em mim e nos meus projetos, principalmente minha sócia e amiga Cecilia Jiang e minha mãe, contribuiu imensamente para o meu sucesso. Além disso, sou muito persistente e não desisto rápido.

Estou realmente feliz pela oportunidade em compartilhar com vocês a minha jornada que me auxiliou a ser quem eu sou.

Para todos que buscam um sonho, eu lhe pergunto por que esperar para dar o primeiro passo? Planeje, dedique-se, persista, supere os contratempos e abrace as oportunidades.

Encontre Daniela Sena em outras mídias:

Instagram: @daniinchina @continental.co @sheupcommunity @dici.cosmetics @danilivebr

LinkedIn: Daniela Sena no LinkedIn

Mango TV: participação especial de Daniela Sena em reportagem sobre a China

GlobaLink: Daniela Sena falando sobre a Zona Franca de Hainan, sul da China.

THE WALL STREET JOURNAL DIGITAL NETWORK: matéria sobre e-commerce na China

Entrevista para o site “Só Sergipe”

Texto e revisão: Rachel Mezaros

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Sobre Rachel Mezaros

Rachel Mezaros é psicóloga, assídua leitora, apaixonada pela língua portuguesa e revisora da Brasileiros Mundo Afora. Desde 2015, mora em Nanjing, no sul da China.

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