A difícil experiência da solidão

A primeira vez em que me senti sozinha foi quando cheguei à Suíça, em 2005. Já vivia há seis meses no país, quando um dia, após almoçar só, em um restaurante, me surpreendi com um sentimento que eu nunca havia experimentado: o da solidão. Ainda sem filhos, eu não trabalhava e conhecia poucas pessoas, além de não dominar o idioma. O marido ficava no escritório e só chegava à noite. Para quem vinha de uma rotina de jornalista, com muitos compromissos e pessoas ao redor, a experiência foi dura. O fenômeno, novo para mim, acomete muitos imigrantes, principalmente nos primeiros anos.

Além do curso de alemão, comecei a fazer academia, para me livrar daquele sentimento e superar a fase da melhor forma possível. Achei também que poderia fazer amigos enquanto me exercitava. Engano; o máximo que eu ouvia era um bom dia e saúde, quando eu espirrava. Demorou até eu criar a minha rede de contatos.

Com o tempo e muito estudo, entendi que o suíço é mais fechado mesmo, isso faz parte de um estilo de comunicação. Ele prefere dividir muito bem o lado pessoal, se mostrando somente para amigos de longa data. Faz parte da característica cultural individualista, muito forte nessa sociedade. O brasileiro, que é extremamente coletivista, demora a perceber, aceitar e conviver com essa questão. Muitas vezes, a falta de um sorriso e um olho no olho gera extremo incômodo em nós. Mas o mestrado em Comunicação Intercultural me fez entender que não é pessoal contra mim, mas uma maneira de viver a vida sem incomodar o outro.

Pertencer a uma cultura individualista pode levar algumas pessoas a se comportarem de uma maneira muito fechada. Por outro lado, torna-se um problema quando essa característica se torna pesada, quase que um fardo, a ponto de levar à triste estatística de que um terço das pessoas na Suíça às vezes se sente solitária, de acordo com Observatório de Saúde suíço (Obsan), relatado por diversos artigos jornalísticos publicados em dezembro de 2016. Este número permanece constante ao longo dos últimos vinte anos.
Dessa maneira, esse texto é um convite à compreensão de um comportamento diferente. Mais que isso, a demonstração de uma notável diferença entre duas culturas, na qual nós brasileiros saímos ganhando. Afinal de contas, um sorriso é sempre muito bem vindo; seja aqui em Zurique ou em São Paulo.

A solidão ronda os suíços

As mulheres são mais propensas que os homens. Enquanto quatro em cada dez mulheres se descrevem como solitárias, menos de um terço dos homens se dizem sozinhos.
O avanço da idade torna o grupo feminino menos suscetível, entretanto. Metade das mulheres entre 15 a 34 anos se sentem extremamente sós, mas em idades mais avançadas o percentual cai para 40 por cento.

A tendência do sexo oposto vai na direção contrária: no grupo de mais 65 anos de idade, um a cada cinco homens se sente solitário. A geração mais jovem, no entanto, acomete um a cada três. O sentimento de solidão também está associada com a saúde mental. Quem tem problemas psicológicos, muitas vezes se sente solitário.

 

Texto: Liliana Tinoco Bäckert   Foto: Claudia Bömmels 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Sobre Liliana Tinoco Bäckert

Liliana Tinoco Bäckert é jornalista e treinadora intercultural. Tem mestrado em Comunicação Intercultural pela Universidade de Lugano e é especializada em adaptação e integração em diferentes países. É uma carioca que mora na Suíça desde 2005 e escreve na coluna Brasileiros Globalizados que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de quem mora no exterior.

2 respostas para A difícil experiência da solidão

  1. Ana Lucia Clavioz diz:

    Amo a Suiça, não sentir solidão , senti muitas saudades de minha Mâe e das minhas sexta-feiras com amigos e da praia, depois quando começei a ficar muito sozinha, fui a escola de alemão no mesmo mês que chequei,e conheci 4 moças maravilhosa tds no mesmo nível de alemão que eu, todas na mesma faixa de idade e até hoje só 1 saiu do grupo..mesmo a que o marido aposentou e foi morar num País vizinho, nos visitamos , nos falamos tds os dia, e nos telefonamos com CAM , amigas de verdade, e isto aliviou a solidão, em 2007 conheci mas 2 moças maravilhosa e ficou bem melhor, hj ja com mas de 20 anos aqui sinto um pouco de solidão, mudei de Kanton e vou voltar a estudar…faço tds anos uma reciclagem de alemão e agora vou começar a estudar Frances, acho um lindo idioma que meu marido perfeito, sua segunda língua, ele nasceu em Bern , mas os pais veem de Vallis…agora moro em Bern e aqui sim da solidão, um Kanton pequeno, com mas idosos e com menos alegria do que Zürich onde vivi 17 anos…não é fácil a vida na Suiça, mas dá para levar o importante e vc estar aqui por sua felicidade ..sou feliz aqui, com meu marido, tenho o melhor de todos kkkkk sou feliz com a minha vida, e com comigo mesma e só resolvida com Deus, tudo tem um preço…se é para viver com o homem que conheci a tantos anos e continua maravilhoso, vivo aqui…amo a Suiça!

  2. Lilian Azevedo diz:

    deve ser muito dificil se adaptar em um país com uma cultura tão diferente em termos de relacionamento,mas bastante interessante o texto pois nos faz entender que não é algo pessoal.