Lilian Rossoni – uma brasileira em Malta

A empresária Lilian Rossoni foi fotografada por Danielle Cassar. Ambas são brasileiras, amigas e moram em Malta. Lilian fala, com exclusividade, sobre sua vida no país e sobre se reinventar.

Entrevista: Claudia Bömmels    |   Fotos: Dani Cassar

 

Quando eu saí do Brasil, meu objetivo era fazer um mestrado em Direito Internacional em Portugal. Mas, antes de me mudar para Lisboa, fui estudar inglês em Malta e,desde a minha chegada à ilha, todos os meus planos mudaram. Eu me apaixonei pelo lugar e encontrei uma das pessoas mais especiais da minha vida, meu marido!
Quando eu decidi que Malta seria o lugar em que eu gostaria viver para o resto da minha vida, minha maior preocupação era como eu iria trabalhar na minha profissão como advogada. A primeira ideia era atuar como assessora jurídica para empresas que tivessem ou gostariam de ter relações comerciais com o Brasil. Cheguei a fazer um estágio em um dos mais renomados escritórios de advocacia em Malta, mas foi nesse período que eu percebi que a advocacia já não cabia mais na minha vida. Amo o Direito, mas a advocacia exige muito tempo, além da responsabilidade com os bens e a vida de outras pessoas. No Brasil, eu era coordenadora jurídica empresarial, e minha equipe trabalhava com cerca de 500 processos. Muitas vezes meu expediente era de 10, 12 horas por dia e invariavelmente voltava para casa com documentos para ler, corrigir; nem mesmo os finais de semana eram diferentes. Vivia para trabalhar e eu queria trabalhar para viver. Já em Malta, nas minhas horas vagas, respondia em blogs de viagem às perguntas dos leitores sobre o país, de uma forma mais pessoal e com conhecimento de quem mora no lugar. Quando perguntavam sobre intercâmbio, colocava as pessoas em contato diretamente com as escolas de inglês daqui, a fim de contratarem o curso sem pagar nada além do valor dele. Na época, meu namorado, hoje meu marido, trabalhava no ramo imobiliário, também acomodando alunos em residências estudantis. Foi ele que sugeriu que trabalhássemos juntos, e essa foi a minha chance de juntar o útil ao agradável.
Assim, no início de 2011, nasceu a LIFE IN MALTA Limited, sediada em Malta, certificada e licenciada pelo Ministério do Turismo de Malta (Malta TourismAuthority), com o objetivo de oferecer um serviço completo aos estudantes, pelo menor preço possível. Os estudantes passaram a ter acesso a pacotes de intercâmbio com curso, seguro, acomodaçãoe traslado com um custo menor do que eles teriam se contratassem os serviços diretamente nas escolas em Malta. Nós negociamos descontos para os estudantes e não cobramos nenhuma taxa de intermediação por isso. Hoje a LIFE IN MALTA é o maior portal online de busca das melhores opções de custo/benefício para estudar inglês na ilha, com todas as escolas de língua inglesa cadastradas e à disposição dos estudantes para comparação de preços e serviços, com assistência em português, inglês, espanhol e italiano.
Mas não foi simples mudar de ramo. Para atuar na área de turismo de forma competente, eu tive que estudar muito por conta própria. Não somente por causa da agência, mas para conhecer melhor Malta, com seus 316km2 de área e 7 mil anos de história. Eu lembro que, em 2010, antes de abrirmos a agência, as pessoas pouco sabiam sobre Malta. As informações que eu encontrava na internet em português eram superficiais, algumas vezes até erradas, ou simplesmente opiniões de interesse totalmente pessoal do autor. Então, estudar e conhecer de verdade Malta foi essencial para o crescimento do nosso negócio. Isso faz muita diferença e passa credibilidade para os nossos clientes.

Diferenças culturais entre Malta e o Brasil

A extensão territorial, a população e o fato de Malta ser um país bilíngue são algumas diferenças básicas entre os dois países. Enquanto no Brasil quase 200 milhões de pessoas falam a mesma língua, em Malta não passam de 450 mil habitantes que iniciam uma conversa em inglês, passam sem perceber para o maltês e, invariavelmente, finalizam o assunto com expressões regionais. Ainda hoje me admira o fato de que, em algumas cidades maltesas, muito menores que certos bairros no Brasil, sejam utilizadas expressões e palavras próprias, quase como um dialeto. A língua maltesa é o único idioma semítico que usa alfabeto latino. Mas é a riqueza cultural o que mais me impressiona em Malta. A história do nosso Brasil é relativamente nova comparada com os 7 mil anos de existência de Malta. Ao longo desse período, várias potências governaram a ilha, dos fenícios aos britânicos. Isso resultou em uma grande herança cultural.
No dia a dia, a segurança é o maior diferencial: poder estacionar o carro em qualquer rua, caminhar em lugares movimentados e não ter medo de ser roubada, andar nas ruas à noite ou dirigir com a janela do carro aberta. Cuidado, claro, é sempre preciso ter, principalmente nas baladas ou em lugares onde circulam muitos turistas, mas de modo geral há um abismo de diferença entre a segurança e a tranquilidade em Malta e a realidade do Brasil.


Flexibilidade no trabalho

Minha rotina de trabalho é muito flexível, e isso é maravilhoso. Geralmente eu fico online o dia todo, mas procuro estabelecer limites para não trabalhar o tempo todo. No período da manhã, enquanto as pessoas ainda estão dormindo no Brasil, eu coloco em dia a minha correspondência sem interrupção. A parte da tarde, dedico aos trabalhos externos, visito escolas, me reúno com os diretores para negociar promoções especiais, atendo aqueles que já estão em Malta e tranquilamente consigo tempo para resolver assuntos pessoais. À noite geralmente escrevo, me informo sobre o que está acontecendo em Malta, procuro ficar bem antenada e estar presente na maior parte dos eventos da ilha. Assim consigo manter a página da LIFE IN MALTA no Facebook bem atualizada e interessante para os leitores. Eu trabalho muito, mas é diferente, falar e escrever sobre Malta é quase um passatempo para mim.


Viver e trabalhar juntos

Eu e Dal Amorim somos casados, sócios e trabalhamos juntos. Expatriados não têm a família perto, os pais, os irmãos, tios e primos estão a milhares de quilômetros de distância; então, a nossa vida é bastante centrada no companheiro e nos filhos, para quem os tem. A maior dificuldade em trabalharmos juntos é que, invariavelmente, a vida pessoal se mistura com a profissional. Mas com o tempo nós fomos entendendo o espaço e a função de cada um na agência e aprendendo a respeitar as nossas diferenças e qualidades. Foi fundamental para o nosso casamento aprendermos a dividir as tarefas e cada um trabalhar em áreas diferentes.


Recomeçar no exterior

Em um novo país, o cidadão comum que chega sozinho não tem referências. Ninguém conhece a sua origem, seu sobrenome não tem peso, tampouco seu diploma na melhor faculdade do Brasil faz algum sentido.É preciso ter muita autoconfiança, saber que suas qualidades pessoais são competitivas e aproveitar cada oportunidade para mostrar isso. As empresas estão sempre de olho em bons funcionários, sejam eles locais ou não.

 

É importante entender o quanto antes que o recomeço é também profissional. Será necessário percorrer um novo caminho por conta própria, sem medo de mudar, de se reinventar. Mudar-se para um novo país sem um plano pode dar certo, mas esse é um caminho muito mais longo e duro. Se você não tem cidadania europeia, por exemplo, informe-se muito bem sobre a permissão para trabalhar no país que você escolheu para morar. Eu mesma precisei voltar para o Brasil, terminar de organizar toda minha documentação para reconhecer minha cidadania italiana. Depois tive que morar quatro meses na Itália para fazer o procedimento e só então, como cidadã da Comunidade Europeia, tive maior facilidade para abrir a minha empresa e ser residente permanente em Malta. Foi um árduo caminho cheio de obstáculos. Sem dúvida tudo teria sido mais tranquilo se eu já tivesse a cidadania em mãos desde o princípio. Hoje eu me sinto muito feliz e realizada em ter tido a coragem de percorrer um novo caminho. Deixar uma carreira como advogada para trás não foi uma escolha fácil, mas hoje sei que aproveito muito dessa bagagem na nova etapa da minha vida.
Tenho muito orgulho de ter me reinventado profissionalmente, de ter criado a LIFE IN  MALTA, uma empresa que a cada dia ganha maior espaço no mercado e possibilita a tantas pessoas alcançarem o sonho de estudar no exterior e ter uma experiência de vida única. Adoro viver em Malta, um país seguro, rodeado de beleza natural, onde faz 300 dias de sol por ano. Sobretudo tenho orgulho de ter conquistado o que eu mais queria: trabalhar para viver e não mais viver para trabalhar!

 

 

“Foi em Malta que descobri minha paixão pelo mar.
Fiz cursos de mergulho, tirei a licença náutica
e hoje não consigo mais imaginar
minha vida longe dele.”

 

Xlendi Bay – Gozo
Leia a revista completa e gratuitamente, online, aqui: Brasileiros em Malta.

 

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Sobre Claudia Bömmels

Claudia Bömmels é fotógrafa, contadora de histórias, viajante e editora da Brasileiros Mundo Afora. Atualmente ela mora em Nanjing na China.

Uma resposta para Lilian Rossoni – uma brasileira em Malta

  1. monica pittorri diz:

    OLa ,vou p Malta dia 22 de dezembroe fico ate dia 27,quando embarco para Barcelona. Vou ficar em gozo .Vc me indica algum guia brasileiro? att