Filhos bilíngues – Dicas para seu filho aprender o português melhor

Aprender várias línguas nos primeiros anos de vida é um dos métodos mais simples e eficazes para obter fluência em diferentes idiomas. No entanto, muitos pais, que moram fora do Brasil, questionam se é correto ou até mesmo necessário continuar falando ou ensinando a língua portuguesa aos filhos. Algumas pessoas, que moram já há algum tempo no exterior, falam em casa somente a língua do novo país e tendem a se perguntar sobre qual o melhor método para introduzir o português para as crianças.Muitos desses questionamentos são baseados em alguns mitos. 
 
 
 Mito: Seu filho ficará confuso por aprender mais de uma língua. 
 Essa crença é muito comum em países monolíngues.Tenha certeza de que o cérebro do seu filho tem neurônios suficientes para lidar com duas ou mais línguas, sem falar que diversas pesquisam mostram vantagens cognitivas significantes em crianças multilíngues. Se seu filho aprende duas línguas, a mudança para três ou quatro idiomas será muito mais fácil. Mito: Seu filho irá misturar os dois idiomas e não falará nenhum deles com fluência. É verdade que algumas misturas ocorrerão no início da aprendizagem, mas elas são inofensivas e temporárias. À medida que a criança constrói seu vocabulário em cada língua, esse fenômeno desaparece automaticamente. 
 
Mito: Ler e escrever em várias línguas? Algumas crianças não conseguem nem mesmo lidar com isso em uma língua!  
Muitas crianças apresentam dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita, no entanto esse fato não está ligado ao número de línguas que elas falam. Na verdade, o acesso a múltiplos idiomas faz com que seja mais fácil para a criança compreender a natureza da própria linguagem, o que, por sua vez, melhorará as habilidades gerais de alfabetização. 
 
Eu selecionei algumas dicas que podem ajudar você a ensinar o português mais facilmente a seus filhos: 
 
Acordo familiar 
Esse é o primeiro e o mais importante passo para que os filhos cresçam falando duas ou mais línguas. Sem um acordo, todo o processo de ensino e aprendizagem poderá ser prejudicado. Existem muitos casos em que um dos parceiros não fala o português e não concorda que o idioma seja ensinado aos filhos. De modo geral, isso se deve ao fato de sentirem-se inseguros e excluídos da “linguagem secreta” entre o pai ou a mãe e os filhos. Para que o ensino do português seja bem-sucedido, é importante que o casal encontre uma solução que seja aceitável para ambos e benéfica para a criança. 
 
 
Uma pessoa, uma língua
 
Esse é o sistema de linguagem familiar mais eficaz entre os brasileiros vivendo no exterior. O pai, por exemplo, fala somente inglês com os filhos, enquanto a mãe fala somente em português. A ideia é que cada um constantemente fale apenas uma língua com a criança. Visitas de familiares, contato com outras famílias brasileiras ou viagens parao Brasil ajudarão a criança a compreender que o pai ou a mãe não são as únicas pessoas que falam o português. 
 
Esteja presente
A criança precisa do seu apoio no novo aprendizado. É importante criar um ambiente acolhedor em casa, onde a língua seja passada naturalmente e de maneira descontraída, por meio de livros,músicas, filmes ou brincadeiras. Seja paciente: criar filhos multilíngues requer paciência. Momentos de dúvida, ansiedade, medo e insegurança são normais. Mas lembre-se que ensinar uma ou mais línguas aos seus filhos é apenas mais um aspecto da maternidade e da paternidade. É um compromisso a longo prazo com possíveis altos e baixos pelo caminho. Não se preocupe se seu filho não fala múltiplas línguas tão rapidamente ou tão habilmente como seus colegas. Cada criança tem seu próprio ritmo e tempo de aprendizado. Concentrese nos sucessos. Você receberá a sua recompensa quando seu filho pedir um abraço em português. 
 
Entusiasmo com realidade 
Uma vez que a ideia de duas línguas se instalou na família, muitos pais consideram a possibilidade de adicionar mais idiomas. Nesse caso, é preciso estar atento se a quantidade de línguas não estará sobrecarregando a criança. Estudos apontam que é possível que uma criança aprenda simultaneamente, e com sucesso, até quatro idiomas, desde que esteja exposta à língua durante 30% do seu tempo.

 

 

Eu entrevistei algumas mães brasileiras e elas contam como estão educando seus filhos em países estrangeiros, ensinando o português. 
 
 “A dificuldade em manter o português está no nosso dia a dia devido à pressa cotidiana. Vivemos em um ambiente de língua húngara e, embora eu só fale português com os meninos, eles passam grande parte do dia na escola, reforçando muito a língua local. Meus filhos entendem bem o português, porém o vocabulário húngaro é muito mais rico. Antes da escola, o português era mais forte aqui em casa, agora, mesmo falando com eles na minha língua, eles respondem em húngaro. Muitas vezes peço que repitam em português, mas não é sempre que tenho tempo para isso. Então a pressa do cotidiano me impede que eu seja mais rigorosa.” Carolina Szabadkai é casada com um húngaro, mora na Hungria e é mãe de dois meninos de 6 e 8 anos.
 
“Eu falo português com meus filhos, e o meu marido, uruguaio, fala espanhol. As crianças na creche aprendem a língua do país, o hebraico. Meu filho domina as três línguas, mas sua fluência está no hebraico. Entretanto, é fundamental para mim e para o meu marido que eles falem as nossas línguas. Nunca falamos em hebraico com as crianças e já vemos os frutos disso. Descobrimos que criar filhos bilíngues é um desafio maravilhoso.” Luciana Tub, casada com um uruguaio, mora em Israel e é mãe de um menino de 3 anos e 10 meses e de uma bebê de 10 meses.
 
“Sou casada com um finlandês que é fluente na língua portuguesa, então o idioma oficial da nossa família é o português. Isso torna mais fácil a minha missão de continuar falando em português com meu filho. Porém, a cada dia, o vocabulário dele em finlandês triplica e eu sempre preciso correr atrás do prejuízo. Para isso, costumo usar muitos livros, músicas e cartões com informações gerais como formas, cores e números. Eu trabalho com crianças e passo muitas horas do dia me comunicando em finlandês, o que muitas vezes dificulta mudar para o português novamente. Quando volto para casa, acabo me comunicando em finlandês, mas isso não interfere no aprendizado do meu filho.” Sandra Kautto é casada com um finlandês, mora na Finlândia e é mãe de um menino de 3 anos e 7 meses. 
 
“Ainda grávida, eu e meu marido já conversávamos a respeito do bilinguismo e essa relação com as duas línguas para o nosso filho. Na época, decidimos que falaríamos português em casa e na rua, em italiano. No entanto, isso não deu muito certo, pois não era natural para nós dois nos comunicarmos em outra língua. Decidimos então nos comunicar em português dentro de casa e permitir que a escola passasse a ser a sua referência da língua italiana. Fomos orientados pelo professor que nos comunicássemos apenas em italiano com ele. Não concordei, mas volta e meia meu marido fala em italiano com o nosso filho. Atualmente, eu sinto alguma dificuldade em responder em português quando meu filho fala insistentemente quase tudo em italiano. Mas não desisto e continuo ensinando o português a ele.” Daniela Correa é casada com um brasileiro, mora na Itália e tem um filho de 4 anos e uma filha de 1 ano. 
 
Como se pode ver, a educação de filhos multilíngues é um processo ajustável, flexível e altamente pessoal. Para obter sucesso, é preciso adaptar esse processo de ensino ao seu estilo de vida, tornando o aprendizado algo útil e divertido para você e para seus filhos. Pense que até mesmo o atleta mais bem treinado não poderia terminar uma maratona com sapatos mal ajustados. 
 
 

Fotos de Marisa Pedro-Pfeiffer.

 

Lila Rosana nasceu em Belém do Pará, onde formou-se em psicologia clínica e organizacional. Morou por 11 anos em Fortaleza, no Ceará. Tem especializações em educação infantil, ludoterapia e estresse pós-traumático.  Atualmente vive em Vancouver, no Canadá. Ela escreve no blog pessoal Conversando com os pais ,que surgiu do trabalho de orientação de pais que fazia no Brasil, e para o jornal online Tribuna do Ceará. 

lila-conversandocomospais.blogspot.com  www.tribunadoceara.com.br/blogs/lila-rosana


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Sobre Claudia Bömmels

Claudia Bömmels é fotógrafa, contadora de histórias, viajante e editora da Brasileiros Mundo Afora. Atualmente ela mora em Nanjing na China.

4 respostas para Filhos bilíngues – Dicas para seu filho aprender o português melhor

  1. Fernando Ferreira diz:

    As crianças não têm dificuldade em aprender mais de uma língua em simultâneo. Tenho uma amiga que vive em Budapeste há 10 anos, casada com um húngaro. Tem 2 filhos e veio este ano passar férias a Portugal com o marido e os filhos. Devo dizer que fiquei maravilhado com a forma como as crianças – que frequentam escolas húngaras – falavam português.

  2. Anônimo diz:

    sou brasileira, meu marido suiço eu falo portugues com as crianças e elas comigo, o pai fala Suiço Alemao com eles e eles com o pai, na escolar e o Alemao e eu e meu marido falamos English juntos e nossos filhos falam em portugues juntos, nao temos problema algum, nossos filhos falam portugues, alemao, Suiço Alemao, Ingles e agora o mais velho esta aprendendo Frances e vai muito bem na escolar. moramos na Suiça na parte Alema

  3. Muito bom Nilcelene! Que bom que você pensa e age dessa maneira. Seu filho só tem a ganhar com isso. Obrigada pelo comentário !

  4. Acho que meu perfil se encaixa mais no relato da Carolina. Meu filho completou três anos e está no Jardim. Ficou "combinado" entre meu marido e eu que falaríamos nossas línguas maternas (alemão e português) para que o aprendizado fosse bilíngue desde cedo. Por enquanto o português domina no vocabulário do B, motivado pelo fato de que ele passa mais horas comigo e as viagens de férias ao Brasil são geralmente longas (três meses). Contudo, no Jardim, ele se expressa em alemão, o que só não ocorre se ele não conhece uma palavra nas duas línguas. Acho que com o tempo e a entrada na Escola (ainda falta um pouquinho) o alemão será dominante porque as viagens ao meu país serão mais curtas e o convívio será maior entre os que falam a língua teutônica. Contudo, não deixarei de me comunicar em português com ele e quando estiver maior desejo que estude formalmente a minha língua e mantenha contato com a cultura e o povo. Venho de uma família grande e pretendo que o português permaneça na memória e no coração.