O fato já lhe rendeu inúmeras entrevistas em veículos como TV Globo e Bandeirantes. Mas olha, ela faz questão de deixar claro que não gosta de ser citada apenas como blogueira. “Eu faço muito mais coisas além de escrever para o blog.” E faz mesmo. Em conversa, via Skype, vovó Neusa contou com entusiasmo suas inúmeras atividades e desabafou: “Queria encontrar tempo para sair de férias com meus netos, mas não consigo parar.” Bióloga aposentada, ela se dedica a projetos de resgate de memória e profere palestras aqui e ali sobre São Paulo, cidade onde nasceu, mora até hoje e ama.
Resgate de memória
Seu contato com o mundo digital teve início em 1994, quando o filho a sugeriu que passasse seus textos, que ela escrevia em cadernos, para o computador. vovó Neuza tratou de aprender e, desde 2008, mantém o Blog da vovó Neuza . Ela escreve sobre a história de sua família com todos os ascendentes e descendentes, material que hoje já soma cerca de 40 pastas e foi publicado, em partes, no Museu da Pessoa, em São Paulo. A partir daí, elaborou um projeto de resgate de memória tanto para pessoas físicas, como para empresas e instituições, e já desenvolveu a proposta para a Prefeitura de São Paulo.
Apaixonada pelo assunto, criou, há alguns anos, em parceira com sua filha, o Baú da Memória. No local, guarda objetos de valor emocional para ela e sua família. De tempos em tempos esses objetos rendem pequenas crônicas, publicadas em seu blog. Na página virtual ela também conta sobre suas inúmeras atividades, como a participação no concurso cultural Talentos da Maturidade, do Banco Santander, e a homenagem que ajudou a organizar para a professora Ecléa Bosi, idealizadora da Universidade Aberta à Terceira Idade, pelos 20 anos do projeto. Claro que vovó Neuza já estudou por lá. E mais, ela já foi garota propaganda da Instituição, fato que narra com orgulho e graça.
Estudante compulsiva
Os cursos ocupam grande parte do tempo de vovó Neuza, atualmente ela estuda História da Arte, no Museu de Artes de São Paulo. “Sempre fui uma estudante compulsiva desde criança, gosto de inventar moda”, brinca.
Ela também acompanha as apresentações do Quarteto de Cordas da cidade de São Paulo e se encarrega de divulgá-las em sua rede virtual. Esse networking digital já lhe rendeu boas amizades. vovó Neuza encontra-se frequentemente com um grupo de amigas, as semi-novas, como se autodenominam, e a regra do grupo, instituída por ela, é não falar em doença e remédio. Aliás, quando o assunto é saúde, a de vovó Neuza vai muito bem, obrigada. Ela pratica musculação há 13 anos e quando falta “bate um sentimento de culpa.” Além disso, não toma nenhum remédio e tem a memória afiada. “Eu me lembro de praticamente tudo. Estou sempre muito ligada”, diz. As lembranças são tantas e tão vivas, que ela decidiu escrever. Os textos vão para o bauzinho da memória, fichário que já acumula cerca de 300 fichas, cada uma correspondente a um flash de memória, segundo ela.
Ela explica ainda que atualmente está empenhada em agilizar os trâmites para doar seu corpo, quando morrer, para a área de pesquisa da Universidade de São Paulo. “Como bióloga sei da importância desse gesto para os estudos e pesquisas universitárias. Também já doei o cérebro de minha mãe, que morreu lúcida aos 97 anos”, explica. Os filhos apoiam a decisão.
Projeto de vida
Vovó Neuza nunca teve receio de não ter o que fazer quando se aposentasse. No começo cuidou dos pais e dos sogros. Também tomou conta do marido, quando o mesmo estava doente, até o seu falecimento. Ela foi casada durante 46 anos com Ayrton, seu primeiro namorado. O casal teve dois filhos, que lhe deram quatro netos. Sobre o marido ela fala com ternura e diz que foi uma união muito feliz. “Costumávamos ir a concertos de música juntos, tínhamos os mesmos gostos.”Depois de se recuperar da perda, ela encheu sua vida de afazeres.
Em 2012, realizou uma viagem internacional com três objetivos: Encontrar um casal de amigos espanhóis, que conheceu via internet, reencontrar um ex-aluno, depois de 37 anos, com quem retomou o contato graças às redes sociais, e visitar a filha que, na época, morava na Itália. A viagem, claro, foi registrada em seu blog. Seus textos, ricos em detalhes, demonstram a emoção de cada momento vivido.
Perguntada se pretende publicar um livro, ela acaba confessando que começou a escrever uma obra, que tem o nome provisório de Seis Gerações à Procura de uma História, sobre sua família. Quem sabe logo logo esteja nas livrarias, não é? Com tanta vitalidade, o recado que deixa para a turma da terceira idade não poderia ser outro:
Brasileiros Mundo Afora