Do lado de cá é muito bom, mas um dia acordei com uma sensação estranha. Tinha um buraco no peito. Uma falta de mim e da vida como eu conheço. Deu uma pressa em me livrar desse sentimento. Sai para caminhar, tem uns lugares lindos por aqui. De repente senti um alívio e tudo voltou ao normal.
Contei para o médico. Ele disse:
– Ah, não se preocupe. Isso é Heimweh e depois que completares um ano aqui passa, ou diminui bastante.
Heimweh numa tradução livre para o português quer dizer saudades da pátria. Recomendou-me o médico que fizesse pequenas viagens aos fins de semana. A prática tem ajudado muito.
Outro dia na escola de idiomas o assunto era esse. Quase todos tinham histórias para contar. Quando a saudade de casa bate, uns lavam louça, outros dançam, ou assistem novelas. Meu colega russo cuida da horta. A menina do afeganistão só senta e chora. Para alguns é melhor focar no presente, para outros a solução é rever as fotos da família. Todos aqueles depoimentos pareciam acolher a minha falta.
Relatei a experiência ao marido, que me disse:
– Eu sei bem como é isso. – Sabe? Perguntei surpresa, afinal quem mudou de pátria fui eu.
Ele explicou:
– Viajei durante anos de país em país a trabalho, permanecendo de dois a três meses em cada local. Por isso, também experimentei esse sentimento.
– E o que você fazia? – Quando eu estava sozinho no Brasil, por exemplo, na véspera do Natal, rezei e pedi a Deus para não sentir mais aquele vazio. No dia seguinte, aceitei o convite de um colega para sair. Foi quando te conheci e tudo mudou.
Nesse dia, meu vazio se encheu de amor.
Perguntei também aos leitores: O que vocês fazem para amenizar a saudade de casa? Olha o que a Carolina Ziliotto, que também mora na Alemanha, respondeu:
“Para evitar esse sentimento de saudade da pátria eu procuro focar no presente. Faço poucos planos a longo prazo. Tenho pequenos planos e vou vivendo a vida conforme ela se apresenta. O contato diário com minha família, via Skype, também ajuda bastante. Muitas vezes colocamos o papo em dia enquanto fazemos atividades do cotidiano como cozinhar, pintar o cabelo (minha mãe diz: “olha ali do lado vai pingar”). Também faço ginástica, pequenas viagens a dois, assisto novela brasileira, saio com as amigas… Vivo o que tem para viver hoje da melhor forma que consigo.”
Beijo e até a próxima!
Vanessa
Vanessa Bueno é jornalista e expatriada. Mora na Alemanha há um ano e escreve sobre a vida Do lado de cá, ou seja, de fora do Brasil. A ideia é gerar debates sobre as diversas situações que permeiam a vida de brasileiros mundo afora. Falaremos por aqui, por exemplo, de trabalho no exterior, dificuldades com a língua, diferenças à mesa, criação dos filhos, e tudo o mais que surgir, sempre com a participação especial de nossos leitores.