Diferenças culturais: Enterro por aqui é bem diferente do nosso

Uma vez eu li no blog da Mirella Matthiesen, que eu acompanho, e ela escreveu sobre a sua estranha experiência no Canadá, quando a filha do vizinho, que havia falecido, lhe deu um buquet de flores tirado da coroa que o finado havia recebido no enterro. Leia mais aqui: O vizinho morre e eu que ganho flores!
Diferenças culturais 
Existem muitas formas de se lidar com a morte. No hinduísmo, por exemplo, veste-se o branco, a cor do luto, que dura 12 dias. Mas não precisamos ir tão longe para falar de diferenças culturais relacionadas com a morte. Eu infelizmente já vivenciei alguns enterros aqui na Alemanha e Suiça. Além da situação ser triste em qualquer lugar do mundo, me causa um estranhamento enorme duas questões:
1. O finado não é enterrado no dia seguinte. Dependendo do caléndário dos parentes ou se ele for cremado, depende da agenda da funerária, isso poderá levar alguns dias ou semanas.
2. Depois do enterro, geralmente sem velório, os “convidados” vão para um restaurante comer o que eles chamam de “Leichenschmaus” – Festa funeral. Não ir, é uma ofensa enorme! Um desrespeito à família e à pessoa que faleceu.
Como eu já vivenciei enterros no Brasil e em outros países, onde perdi pessoas queridas, não há dúvida, de que a dor da perda é igual. A diferença está no tempo de se acostumar com a ideia da morte, até o enterro acontecer. Parece que esse periodo de espera, acalma a alma e tira aquela dose de desespero que se vê nos enterros brasileiros. Afinal, o seu ente querido foi-se ontem  e será enterrado amanhã. Isso é muito brutal!
Bom, o assunto não é dos mais felizes, eu sei. E por isso mesmo voltamos ao post da Mirella e às flores:
 
” Coincidentemente quando estava voltando pra casa, um outro carro parou na frente da casa e como vi que era a filha dele, fui lá falar com ela e oferecer meus préstimos para o que fosse necessário… e foi então que ela disse, “espere um pouco, quero te dar uma coisa!”. Ela abriu o porta mala do carro e da coroa de flores, tirou um buquê pra mim!”
Logo sai toda sorridente atrás de um vaso e coloquei as flores para enfeitar a mesa, nisso chegou a mãe do Kiko, que estava nos visitando naquele mês, e perguntou: “Ué, você foi no mercado comprar flores e nem me chamou?”… eu respondi: “Não, ganhei da coroa de flores do vizinho que morreu!”. A Ligia me olhou com aquela cara, e disse: “Você é louca! Enfeitar a casa com flores de defunto?! Isso dá azar…”. Não deu outra, ela correu no vaso, tirou as flores e jogou no lixo do reciclável orgânico! E eu fiquei com aquela cara de … “ih… fiquei sem flores!”
Ela pergunta no final do post: Você jogaria ou não as flores fora?
Eu, acho que sim. Beijos Claudia

 

 

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Sobre Claudia Bömmels

Claudia Bömmels é fotógrafa, contadora de histórias, viajante e editora da Brasileiros Mundo Afora. Atualmente ela mora em Nanjing na China.

20 respostas para Diferenças culturais: Enterro por aqui é bem diferente do nosso

  1. Joelma dos Santos Gama diz:

    Oi Cláudia!
    Vc está tão longe mulher.
    Sou Paraense e moro em Belém.
    Fiquei feliz em saber que você morou em Marabá e está correndo atrás de seus sonhos.
    Como de para-quedas cai nessa página,e achei interessante como nossas culturas são tão diferentes em relação aos velórios.
    Mas como sempre em todo lugar é um clima de tristeza perdermos um ente querido.nao é mesmo?
    Um grande beijo Cláudia.
    Fique com Deus.

  2. Jheinefher diz:

    Eu não jogaria por que eu posso desfrutar da beleza das flores não aquele que está morto!

  3. Juliane Rosas diz:

    ola .. eu sou mais uma brazuca pelo mundo, moro em Istambul. Eu já fui em um enterro islâmico e me marcou muito. Primeiro eles fazem um velório na mesquita, do lado de fora em um lugar reservado para isso. Depois quando vai chegado a hora do enterro, tem o momento da oração, as mulheres ficam em um canto e são os homens que fazem a oracao perto do caixao. Depois de muitas orações, seguem em cortejo ate o cemitério. Chegando la, as mulheres não se aproximam da cova, so os homens. Perguntei ao meu marido pq, e ele disse que e falta de respeito ao morto. Mas e se o morto for mulher, perguntei… e ele não soube responder. Fiz de tudo para ver o que iria acontecer, mesmo de longe. Novamente fazem mais e mais orações e depois a pessoa mais próxima, irmãos ou pai do morto abre o caixao e eles retiram o morto, que esta enrolado em um pano branco chamado Bez e colocam dentro do buraco. Dai eles mesmo começam a jogar a terra, no caso não sei se isso pode ser feito por um coveiro, mas no que eu fui foi a família, so homens. Novamente fazem mais uma oração e so depois isso as mulheres podem se aproximar. Terminando o enterro alguns ficam junto com a família e outras pessoas seguem o seu rumo. Acho que a parte que me chocou mais foi retirar a pessoa falecida de dentro do caixao. Ps. eles reutilizam o caixao.

  4. Claudia diz:

    Querida Amabile, a sua história emociona. Muito obrigada por compartilhar conosco :o) Bjs

  5. Amabile Weidler diz:

    Eu, sinceramente, acho que foi a melhor coisa que já me aconteceu no que diz respeito à velórios/enterros. Eu – opinião minha, claro – não gosto desse negócio de ficar chorando por dias a fio … No caso do meu avô, que faleceu após ter sofrido 11 meses numa cama de hospital devido a um Câncer diagnosticado tarde demais, a morte veio como um alívio. Ele mesmo dizia que não via a hora de beijar Ava Gardner na boca quando chegasse no céu … "ou no inferno, onde ela estiver eu vou!", e por mais que isso fosse brincadeira, eu acho que tinha um pouco de verdade no desejo de não estar mais naquele sofrimento diário que uma doença sem cura (no estágio em que ele estava, nada mais poderia ser feito) trouxe para um homem que sempre foi muito ativo, afetivo, festeiro, alegre, de bem-com-a-vida … o sentimento de estar atado a uma cama, longe dos netos, filhas, mulher que ama, e privação da vida que levava, foi mil vezes pior que qualquer dor que o Câncer possa ter causado. Achei muito digno, de muito caráter e de muito amor ao meu avô, a minha avó ter colocado a tristeza dela de lado, para dar lugar aos momentos felizes que eles tiveram juntos, e mais, nos ensinar a fazer o mesmo num momento tão importante quanto aquele. Trocar a tristeza que toda a família estava sentindo com a falta do meu avô, por algo feliz, onde déssemos risadas através das memórias, e fossemos todos embora com a sensação de coração "cheio" ou invés de "vazio" pela perda; Isso, para todos nós, acabou sendo algo tão precioso, tão … nossa … nem sei ao certo como colocar em palavras … imensurável, talvez.

    Olha, não é fácil quando um ente querido falece, principalmente porque a gente tende a sentir muita falta, às vezes diariamente, daquela pessoa … mas a tristeza não pode ser mais importante que os momentos ótimos passados com tal pessoa. Esse negócio de se reunir pra ficar chorando num corpo frio, cuja presença não está mais lá, naquele caixão aberto, às vezes ter que ouvir fofoca alheia sobre como fulana decidiu se vestir pra ir num "funeral" ou coisa do tipo (por que, né, isso sempre rola em enterros brasileiros, não é verdade?) não é muito válido pra mim, não faz muito sentido … ficar olhando-olhando-olhando para àquele corpo no caixão que não é nem um pingo a pessoa que você um dia conheceu, isso dói demais e – pra mim, na minha opinião – desnecessariamente.

    Eu posso até ser super criticada com este comentário, porque muita gente pode até achar (como muitos acharam na época) que foi uma "desculpa pra fazer festa", "ato frio de celebrar a perda", ou coisas piores ditas por quem não compreende 100% o intuito que a levou a tal opção, mas nada vai mudar minha compreensão do quão ótimo foi ter passado por tal experiência, de tamanha forma que eu desejo que o mesmo aconteça comigo, quando a minha hora chegar.

    Amabile Weidler

  6. Amabile Weidler diz:

    Quero muito contar à todas o que aconteceu comigo neste tipo de assunto, quando eu tinha apenas 12 anos, e que de tão importante, guardo até hoje no meu coração.

    Quando meu avô faleceu, minha avó agiu contra críticas mais do que severas, de diversas pessoas diferentes, familiares ou não, e pediu que ao invés de ser transferido para um velório, o corpo do meu avô fosse direto do hospital para a cremação, sem velório, funeral, nem nada. Quando as cinzas chegaram na casa dela (3 dias depois), ela convidou toda a família (inclusive quem muito a criticou), amigos e quem estivesse sofrendo com a perda do meu avô, que comparecesse a casa dela para uma "despedida". Não foi uma festa-festa, com docinhos, salgadinhos e refrigerante. Ela fez o prato preferido do meu avô (lasanha), serviu sua bebida preferida (um tipo de cerveja angolana – meu avô nasceu e viveu em Angola por muitos anos até ir para o BR), todos nós comemos no quintal da casa, e a pedidos dela, passamos a compartilhar histórias (algumas hilárias, outras importantes, outras tristes … o que fosse nos fazer sentir melhor) que tivemos com ele, e olha, foram muitas e muitas, a maioria com direito a gargalhadas, e a gente quase virou a noite assim. No final do dia, o sentimento de tristeza não estava mais presente, e cada um pôde guardar feliz diversas memórias do meu avô.(continua…)

  7. Anônimo diz:

    Bom, o cafe ou lanche apos o enterro e para os parente q vieram de longe nao terem de voltar de barriga vazia. Dos enterros q participei foram muito legais estes encontros pois se falava da pessoa falecida com carinho, se trocavam lembrancas de bons tempos, de momentos especiais q as pessoas presentes tiveram c as pessoas falecidas.

  8. Anônimo diz:

    Bom disso dos velórios e enterros no Brasil serem mais rápidos do que aqui ou outros países, deve-se ao fato de que, aqui, os corpos são embalsamados, no Brasil é chamada Tanatopraxia, um procedimento que pode chegar a custar até 6 mil reais, longe da realidade da maioria das famílias brasileiras, além é claro dos demais custos: funeral, sepultura, etc.

  9. Anônimo diz:

    Nao acho estranho o modo como os alemaes celebram o passamento nao…aqui é como em muitos outros países,nao é exclusividade somente da Alemanha nao.Eu acho mais estranho é o modo como fazem os enterros no Brasil..é tudo muito rapido demais..as vezes se morre de manha e de tarde ja esta enterrando..e se por acaso a pessoa estiver viva???Isso é dificil,mas nao é impossível de acontecer nao..ja fui em um funeral no interior do Brasil uma vez onde metade das pessoas no velorio tinham absoluta certeza que a jovem defunta estava viva,pois o corpo estava quente,corado e ela estava mole e nao rigida.Metade achava que ela estava viva e metade achava que a jovem estava morta..viva ou nao enterraram a menina.Mas muitos acharam rapido demais.Agora imaginem se a mocinha tiver sido enterrada viva?Imaginem o desespero?Sou super a favor de esperar dias,semanas ou seja lá oque for,e a doar os orgaos tambêm.No interior de onde venho usa muito o termo "beber o morto"que geralmente acontecem nos velorios que varam a noite..o povo bebe,come,fica"prozeando" e contando os"causo" do falecido.Acho muito interessante a forma como é "celebrado"o funeral aqui e gosto muito..e nao é muito diferente dos funerais americanos nao por exemplo.Já fui em alguns e gostei..comí e bebí sem culpa,escreví meu nome no livro de presentes no funeral,ví o mural de fotos,assistí ao video..é como se fosse uma celebracao a passagem espiritual,afinal,nao acredito que tudo termine com a morte do corpo…como já havía passado varios dias do falecimento o meu coracao ja havía dado uma acalmada,entende?Ja esses dias perdí alguem muito importante pra mim aqui e desta vez preferí nao participar de nada…mas enfim..cada país com a sua cultura e os seus custumes.Nao vejo os alemaes como sendo frios nao,como muita gente os descreve,muito pelo contrario,os acho praticos apenas..praticos,diretos,leais..e é isso aí

  10. Claudia diz:

    Eu sinto muito pela sua perda Mirella. Brutal é a palavra certa para descrever a situação. Eu lí a carta e achei linda…. muito linda. A vida é assim e calro que não dá pra viver pensando que hoje pode ser o último dia, mas de vez em quando é bom lembrar que basta um "sopro" e tudo acabou. Obrigada pela inspiração. Já queria ter escrito antes e somente lendo o teu post, achei as palavras certas para o meu. Bjs

  11. Maluco esse negócio de como encarar e viver a morte nos países do mundo, pra mim a perda do meu pai foi um negócio brutal, pois estava terminando uma viagem e no caminho do aeroporto recebemos a notícia… imagina que em uma hora estava voando para o Brasil e no dia seguinte participei do velório e enterro, quem nem preciso dizer que foi a pior experiência que já tive na vida. Até escrevi no blog sobre isso tb: http://www.mikix.com/carta-a-meu-pai/ .
    De resto, adorei o post e mais ainda ter servido de inspiração 🙂
    bjão

  12. Claudia diz:

    Lembrou bem, é verdade!

  13. Anônimo diz:

    Mas pensando bem, recordando o nordeste brasileiro (meus pais e avós são da Bahia) é costume "beber o morto". Velórios regados a cachaça como meu avô dizia, e que eram impossíveis de imaginar no sul do Brasil onde eu nasci. Hoje em dia (pelo menos na minha cidade em Londrina) nos vários cemitérios, há salões para velórios e sempre servem cafés, chás, bolos, etc (por conta da família do morto) aos que visitam.

  14. Claudia diz:

    Sim, vc tem razao. Cada cultura com as suas esquisitices. Os enterros no Brasil sao muito emocionais mesmo comparando com os daqui. E a questao de morrerem velhinhos tb é verdade! Nao concordo com a questao dos velhos serem largados em asilos. Sim existem esses casos, mas tb existem outros muitos em que os velhinhos sao cuidados em casa. Outra coisa é que todo mundo é muito independente por aqui. Muitos velhinhos nem querem morar com os filhos! Toda historia sempre tem dois lados…
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  15. Anônimo diz:

    Talvez eles encaram a morte como uma passagem. Meu marido sempre fala que estamos fazendo uma breve visita nesse mundo. Aqui vemos muitos idosos falecerem, no Brasil morrem muitos jovens. A vó do meu marido morreu aos 93 anos. A minha sogra estava triste, chorou se emocionou. Tivemos uma café com os familiares e amigos não foi uma comemoração foi apenas um café em memoria dela. Isso tb não significa que os alemães são frios. Cada um expressa sua dor de uma maneira diferente. E sobre as fotos antigamente no Brasil se usava muito tirar fotos de pessoas falecidas. Meu pai mesmo tem uma ao lado da mae no caixao. Outros países também são iguais aos alemães. E eles devem achar estranho nossa maneira, de um funeral encher de gente ao redor do caixao, gente desmaiando, debruçado em cima do morto, se lamentando, fazendo promessas ao falecido. Cada cultura da sua maneira

  16. Claudia diz:

    No da minha avó não fizemos nada disso, mas o corpo tb ficou em uma sala sozinho. Muito esquisito :o/

  17. Anônimo diz:

    participei do da sogra. Foi estranho as missas dias antes do enterro, o corpo sozinho numa sala no cemitério por 3 ou 4 dias, e o café com bolo e o povo enchendo a cara depois do enterro.

  18. Anônimo diz:

    Jogaria as flores fora

  19. Anônimo diz:

    Os alemaes sao muito frios . A comecar quando os pais ficam velhos aqui , jao jogados no asilo. Eu trabalho em um asilo e vejo muitos dos meus velhinhos que raramente recebem uma visita. Quando morrem , fazem aquele teatro , coroas de flores caras , depois büffet ou cafe e bolo , bate papo , risadas . Afinal , choque cultural . Ninguem precisa viver e nem ser como eles.

  20. Anônimo diz:

    Eu já fui mas nao participei da cerimonia porque estava gravida e me aconselharam nao participar fiquei esperando do lado de fora num bar cafe do lado,mas fiquei impressionada porque depois do enterro fomos simplismente par aum buffet com os familiares e amigos parecia uma confraternizacao nao um enterro. Isso é normal na Alemanha.